segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Centro de saúde da Tomar - Serviço de Saúde Pública inacessível

Precisei tirar mais uma vez Atestado Médico de Incapacidade Multiusos. Como sempre, marquei consulta através do Centro de Saúde, para ser atendido pelo Delegado de Saúde. Posteriormente recebi convocatória e lá vou eu com meus relatórios médicos e exames directo ao Serviço de Saúde Pública – Centro de Saúde de Tomar.
Ao chegar local da Junta Médica vejo um edifício sem acesso a cadeira de rodas. Meu auxiliar entra e tenta falar com alguém sobre assunto. Aparece um funcionário com uma rampa amovível de madeira daquelas que encontramos mais vezes que desejado. Aquelas que têm uma inclinação tão acentuada que só de olhar assusta. Praticamente vertical. Até hoje não entendi porque mandam fazer aquelas barbaridades. Era só informarem-se e tentarem saber a inclinação certa.
E para estragarem mais a situação em geral começam a empurrar-nos a cadeira de rodas em direcção às rampas como que o problema estivesse em nós e fossemos uns esquisitos.

Felizmente desta vez isso não me aconteceu, pois nem do carro sai. Questionei zeloso funcionário (muito prestável por acaso e com vontade de ajudar) sobre falta de capacidades da rampa.
Pior é que mesmo conseguindo ultrapassar a rampa na entrada, teria outro degrau a seguir já dentro do edifício, e espaço entre um conjunto e outro de degraus não cabia sequer minha cadeira de rodas.

Funcionário pediu desculpa, e ainda se lamentou que para conseguir aquela rampa, esteve quatro anos à espera.
Eu deveria estar acostumado a estas faltas de respeito e desprezo pela parte do nosso país. Neste caso governo. Mas não consigo. Estou sempre à espera de algo correcto, normal, algo que não me faça sentir um ser sem valor, inexistente, deficiente.
Sabem que às vezes de tanto ser desrespeitado, mal tratado, ignorado e me fazerem sentir minha diferença, chego a questionar-me se realmente este mundo não tem razão em não nos criar condições para vivermos uma vida, com as mesmas condições e oportunidades que os ditos normais? Fico por momentos a culpabilizar-me e a tentar encontrar o porque de só porque sou diferente e me deslocar em cadeira de rodas me desprezam desta maneira. Sinto mesmo por momentos que culpa é minha. Que não sirvo mesmo para nada e que sociedade é que está correcta.

Quero que os ditos normais, que estejam a ler este texto façam mentalmente este exercício comigo: IMAGINEMOS QUE SE VÃO DESLOCAR A UM LUGAR PÚBLICO QUE JAMAIS IMAGINARIAM QUE ESTARIA INACESSÍVEL. COMO POR EXEMPLO ESTE CENTRO DE CONSULTAS PARA CLASSIFICAREM GRAU DE INVALIDEZ DE ALGUÉM. SE É PARA FAZEREM JUNTAS MÉDICAS E CLASSIFICAREM GRAU DE INVALIDEZ SUPOM-SE QUE SERÁ FREQUENTADO POR PESSOAS COM MOBILIDADE REDUZIDA!
AO CHEGAREM ENTRADA A PORTA ESTÁ FECHADA E VOCÊS PARA TEREM ACESSO AO CONSULTÓRIO DO MÉDICO TÊM QUE ESCALAR UMA PAREDE COM UNS 8 METROS ATRAVÉS DE UMA CORDA.
AGORA MULTIPLICAM ESSE EPISÓDIO POR MILHARES IDÊNTICOS OU PIORES NO VOSSO DIA A DIA. Pois é, é isso que acontece connosco todos os dias.
Tudo isto por falta de vontade de quem governa. Fazem leis e ponto final.
Vejam: saiu uma lei anos atrás que obrigava todo estabelecimento comercial independentemente da classe e tamanho a construir, caso não tivesse, uma casa de banho para senhoras e outra para homens. Conheço casos de quem cessou negócio por falta de verbas para dita construção, e muitos outros que foram encerrados após fiscalização por não cumprirem a lei. Hoje não encontramos nenhum estabelecimento aberto ao público que não cumpra a lei, isto é: tendo as duas casas de banho.

E o ridículo é que temos pequenos comércios como floristas, papelarias, mercearias, padarias etc., que casas de banho nunca foram usadas, e tenho a certeza que se não existissem não fariam diferença nenhuma no atendimento que nos prestam.

Dou este exemplo porque o acho elucidativo. Isto diz-me que se os nossos governantes quisessem, conseguiriam resolver problema das acessibilidades também. Mas para eles é mais importante uma casa de banho do que um acesso. Nós não somos prioridade.

Acabei por ser examinado sem privacidade nenhuma, ali na via pública pela junta médica dentro mesmo do carro que me transportava e assunto do Atestado ficou resolvido.

Como é possível estes lugares horrendos e sem condições nenhumas continuarem abertos? É que sendo frequentado maioritariamente por deficientes nem estacionamento para nós tem.

Mesmo sabendo que nada mudará resolvi fazer uma exposição sobre o acontecido e encaminha-la para ERS, INR, DGS...

Por falar em reclamações, deixo-vos este Livro de Reclamações online da ERS.

2 comentários:

  1. Ainda aqui há dias tive que urinar na via publica para dentro do frasco de colheira de amostras porque o laboratorio de análises que me foi indicado pelo SNS nao dispunha do obrigatório acesso para pessoas com mobilidade reduzida.

    Já nem sei como classificar estas cenas, acho que somos governados por uma corja de atrasados mentais.

    manuel martins

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  2. Tristes cenas, Manuel Martins!
    Pior é que parece que isto está cada vez pior.

    Não pediu livro de reclamações? Mínimo é reclamar.

    Fique bem.

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