terça-feira, 21 de setembro de 2010

Quando há "amor e carinho"

"É difícil, mas, quando há amor e carinho, é possível cuidar deles". Maria Conceição Barros dos Santos, residente no Serrado do Mar, em Câmara de Lobos, tem dois filhos com paralisia cerebral. Embora já tenham passado por diversas instituições, onde ficavam durante o dia, Maria da Conceição não gosta de estar longe deles. "O meu trabalho é cuidar deles", afirma. Apesar de a vida ter pregado muitas partidas, os olhos brilham quando fala dos dois filhos, que trata com dedicação e atenção. O Marco tem 27 anos. O Duarte completou 30 anos há pouco tempo.

"Toda a mãe que tem um filho assim tem de saber cuidar com muito amor e carinho, eles precisam de muita atenção e os que são deficientes ainda mais porque não têm culpa de serem assim", frisa, abrindo o coração de mãe. Maria da Conceição lamenta que entre os vizinhos não haja essa percepção. Muitos olham com desdém e até evitam Marco e Duarte quando estes vão à rua, no bloco de apartamentos onde vivem.

Por cuidar 24 horas por dia dos filhos, recebe o Subsídio Por Assistência de 3ª Pessoa, da Segurança Social. Contudo, pede um apoio adicional que cobrisse o consumo que tem em fraldas, pomadas, na higiene dos filhos. Apesar das dificuldades, conta com a ajuda do actual companheiro, que também não trabalha, mas por ter sofrido um AVC. O pai de Marco e Duarte faleceu há já alguns anos.

Nem Duarte, nem Marco falam ou exprimem qualquer tipo de emoção. Maria da Conceição reforça, no entanto, que, antes do marido ter falecido, Duarte ainda balbuciava algumas palavras, tinha ainda nove anos.

Ao longo de todos estes anos, os dois filhos de Maria da Conceição sempre estiveram em instituições, onde permaneciam durante o dia. Há alguns anos é que estão em casa. Duarte voltou por, supostamente, morder as funcionárias. Marco, o mais novo, passava mal fora de casa. "Ele congelava", explica, garantindo que, em casa, nada disso acontece.

A maior parte dos dias de Maria da Conceição, de Duarte e Marco são passados em casa. A melhor parte do dia, segundo a mãe, é quando coloca no chão alguns edredons e eles podem brincar. Porém, não deixa de pensar no dia em que lhes falte. "Eu penso muito nisso, mas, quando morrer, não quero que os meus filhos fiquem com a minha família, mas que vão, aí sim, para uma instituição", revela, frisando, no entanto, que o presente e o futuro dos filhos, enquanto puder, será com ela, a quem Marco se agarra com firmeza e de quem Duarte não tira o olhar.

No chão, em frente ao quarto, brinca com Duarte e Marco. "É o lugar preferido deles", aponta. Apesar de lamentar que a vida "sempre foi dura", o rosto de Maria da Conceição ilumina-se ao falar dos filhos. E é isso que lhe dá força.

O subsídio por assistência de 3ª pessoa

O Subsídio por Assistência de 3ª Pessoa é atribuído aos descendentes de beneficiários que dependam e tenham efectiva assistência de uma terceira pessoa de, pelo menos, seis horas diárias, para assegurar as suas necessidades básicas.

Este subsídio não é atribuído nos casos em que a assistência permanente seja prestada em estabelecimentos de saúde ou de apoio social, oficial ou particular sem fins lucrativos, financiados pelo Estado ou por outras pessoas colectivas de direito público ou de direito privado e de utilidade pública, de acordo com dados disponíveis na página da Segurança Social na Internet. Segundo a presidente do conselho directivo do Centro de Segurança Social da Madeira, Bernardete Vieira, para além destes apoios, a Segurança Social também faculta ajudas técnicas, embora admita que "tudo depende" da situação familiar, aconselhando assim que todos os que estão na situação de Maria da Conceição se informem sobre esse tipo de ajuda, junto de cada técnico social da zona onde residem.
Fonte: dnoticias.pt

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