quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Ser deficiente em Portugal...

Exmo. Sr. José Carlos Queiroz

Venho por este meio, visto não ter outra forma de contacta-lo, responder, à notificação de comparência. Que, na minha ausência me foi deixada a informação, que implicará a cessação da prestação, junto dos serviços do Centro Distrital competente.

Agora e desculpando-me a inconveniência, pergunto-lhe, não tem por acaso conhecimento do estado de saúde do meu filho? Porque será que ele não frequenta o ensino especial obrigatório? Porque será também, que tem de ter a assistência para além da hospitalar dum fisioterapeuta ao domicílio para lhe dar assistência respiratória?

Por uma única razão, o Rafael tem 99% de incapacidade. Incapacidade essa, que não me permite dar-me ao luxo de sequer pensar em ter um emprego. Mas o Rafael está vivo e para além de ter de ser vigiado 24horas por dia tem o direito assim como qualquer cidadão de sair à rua com a sua mãe. Não sabia era que cada vez que tivesse que o fazer tivesse que notificar primeiro os serviços sociais das minhas ausências domiciliárias.

No processo deveriam estar todas estas informações. O sistema até era funcional aquando tratado directamente no Centro de Segurança Social mas agora e sem perceber porquê, os casos como o meu, foram enviados para o CRATO centro de toxicodependentes e carenciados, desculpe-me mais uma vez a ironia, mas ainda não atingi esse estatuto. Pois o CRATO nem tem respostas efectivas para nos dar nos casos de insustentabilidade por assistência a terceiros.

Estou extremamente revoltada, falaram comigo ao telefone, e ficaram de me deixar uma notificação com um aviso, com alguma antecedência para me dirigir ao núcleo.
Era isso que eu esperava, não o que fizeram de forma desleal, não podem tratar todas as pessoas da mesma forma. Se alguém engana e vive à custa do contribuinte, esse alguém não sou eu certamente. Sabe, eu gostava, muito mesmo de ter vida própria, de poder trabalhar e socializar com as outras pessoas, mas não posso, é a vida do meu filho que está em risco.

E ainda me querem tirar o pouco que recebo que é o que nos alimenta? Nem ao meu filho mais velho consigo dar-lhe o curso superior que tantas vezes lhe prometi, porque tudo para nós é insuficiente. Não acha já, que é preciso fazer uma grande gestão numa família monoparental com dois filhos a cargo, sendo um deles uma criança com paralisia cerebral grave, com 320euros de subsídio?

Continuamos a utilizar o R/C da vivenda até que nos arranjem uma casa que tenha condições logísticas ao meu filho, por parte da Câmara.

Pode vir a qualquer hora seja de dia, ou de noite, agradeço que me enviem uma forma de vos comunicar quando me ausento, visto que segunda, quarta e sexta entre as 11.30 a as 13h estou no hospital com o Rafael (o que também poderão ir verificar), e além disso a grande maioria das consultas visto ser um doente crónico grave, são em Lisboa aonde é constantemente acompanhado.

Não sendo eu nenhuma conhecedora do assunto, o Estado não pouparia mais se propusessem aos pais trabalharem nas escolas e fizessem assim parte duma sociedade activa aonde poderiam dar assistência directa aos seus filhos e cruzar conhecimentos com outras auxiliares?

Assim sim, acredito que se evitariam algumas fiscalizações desnecessárias.

Este documento será enviado também ao Ministro da Solidariedade, emprego e Segurança Social, Pedro Mota Soares.

O meu filho é infelizmente, um doente permanente e eu não ando a roubar o estado, pelo contrário, foi um médico que trabalha para o estado que me tirou a minha vida e a do meu filho.

Agradeço resposta.
Cumprimentos.
Cristina Capela

ESCLARECIMENTO DE CRISTINA CAPELA APÓS MOVIMENTO (d)EFICIENTES INDIGNADOS TEREM TORNADO PÚBLICO ESTE CASO.

Vai ser impossível responder a todas as mensagens que tenho recebido. Como esclareci anteriormente, a publicação que os nossos amigos, (d)Eficientes Indignados fizeram, com a minha autorização, visto que temos e estamos juntos nas lutas, em todas as injustiças que têm sido cometidas para com a pessoa excepcional, foi uma informação, um alerta, uma comunicação de mais um caso. Neste caso, tocou-me a mim. NÃO É DE FORMA ALGUMA NENHUM PEDIDO DE AJUDAS. De qualquer forma agradeço todo o carinho que tem sido demonstrado, e agradeço os inúmeros casos que nos foram dados a conhecer e que têm de ser resolvidos. O meu caso já foi encaminhado para as entidades competentes e amanhã terei inclusive uma reunião no núcleo. Obrigado a todos.

Cristina Capela

Actualizado:
Novamente e porque não consigo responder a mais mensagens.

Venho comunicar-vos que a situação que havia sido publicada na página do movimento (d)Eficientes Indignados, que dava a conhecer o meu testemunho, já foi resolvida. Positivamente. Por esse mesmo motivo, faço o apelo às famílias que se vejam em situações similares, que se dirijam directamente às entidades responsáveis. Não sefiquem pelos balcões de atendimento, seguiam às entidades superiores, escrevam cartas registadas com aviso de recepção aos mesmos. Não se deixem ficar sentados esperando que o assunto se resolva. A conversa com as fiscais correu hoje, de forma cordial e concisa. Mais que importante é que reportem os vossos casos por mensagem privada na página do movimento (d)Eficientes Indignados para que eles os possam publicar e os fazerem seguir para as devidas entidades. MUITO OBRIGADO PELO APOIO DE TODOS, PELO CARINHO E PELAS DOCES MENSAGENS.
Reportem para lá todas as denuncias que serão recebidas com todo o apoio e encaminhamento.Obrigado.

Cristina Capela

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