quarta-feira, 15 de julho de 2015

Tetraplégico de Abrantes confessa-se vencido pelo sistema

Eduardo Jorge, o tetraplégico de Abrantes que se tem destacado na luta pela implementação do processo legislativo da Vida Independente, vai ser institucionalizado no Centro de Apoio Social da Carregueira (CASC), concelho da Chamusca, no próximo dia 21 de julho.

Num longo texto publicado no seu blog pessoal, o próprio explica que se viu praticamente obrigado a tomar esta decisão contra a sua vontade, depois de vários anos a lutar pelo direito dos cidadãos portadores de deficiência permanecerem nas suas casas e ambientes familiares.

"Sinto-me como se estivesse a fazer algo muito errado, a desiludir alguém, a entregar os pontos e a dar-me como vencido", desabafa Eduardo Jorge, que explica que não pode continuar a viver sozinho 16 horas por dia, num estado de saúde frágil que necessita de acompanhamento permanente.

Além da dependência, o CASC ofereceu emprego a Eduardo Jorge, que inicia funções no próximo dia 1 de agosto, deixando assim de prestar serviço na União das Freguesias de Alvega e Concavada, concelho de Abrantes, onde terminou um estágio de inserção profissional.

No texto, Eduardo Jorge agradece a "humanidade" e a forma como tem sido tratado e acompanhado pelos responsáveis do CASC, que conheceu aquando da sua viagem de protesto a Lisboa.

Recorde-se que, em setembro de 2014, este tetraplégico de 52 anos cumpriu uma viagem de 180 quilómetros por estradas nacionais em cadeira de rodas entre a aldeia onde reside, Ribeira do Fernando, Concavada, concelho de Abrantes, e o Ministério da Solidariedade Social, em Lisboa.

Na capital, e acompanhado por outros cidadãos ligados ao movimento (d)Eficientes Indignados, Eduardo Jorge entregou um manifesto onde são reivindicadas alterações legislativas que permitam às pessoas com deficiência e necessidade de assistência permanecer em casa, contratar o seu próprio assistente e escapar ao internamento em lares de idosos.

"Estou a viver um turbilhão de sentimentos e sensações, pior de tudo é esta sensação de não estar a fazer o certo", escreve ainda o autor, para quem "é difícil não sentir uma sensação de derrota" e de ter sido vencido pelo sistema, uma vez que "é impossível continuar a viver nestas circunstâncias".

"Vou tentar resolver os problemas de saúde que me têm surgido, e criar condições para poder continuar ainda mais forte e convicto", acrescenta ainda Eduardo Jorge, garantindo que não vai desistir de lutar

"Minha grande angústia reside no facto de ainda não ter conseguido, através das ações de luta que me propus, alterar esta politica da institucionalização compulsiva levada a cabo pelo governo. Meu grande dilema não é institucionalização em si, mas o facto de ser obrigado a isso, de não existirem outras alternativas para quem depende do apoio de terceiros", conclui Eduardo Jorge.

Minha despedida

Estão todos convidados


quinta-feira, 9 de julho de 2015

Vou ser institucionalizado. O sistema venceu?

Há vários dias que procuro em vão palavras para iniciar este texto.

Até agora não surgiram.

Chego a sentir que estou a fugir do assunto, a adia-lo, que não o quero fazer, outras vezes penso que é necessário esperar o momento e o local certo...

mas hoje, dia 01/07/2015, 22h14, ao som do Rui Veloso, deitado como me deixou a Rafaela e até que a Euridice não me venha voltar a posicionar lá pela meia-noite, esboço um tentativa de finalmente começar a escrever.

Isto de deitar cá para fora através da escrita o que vai na alma pelos vistos não é fácil.
Ainda por cima quando se trata de resumir emoções desconhecidas. Estou a viver um turbilhão de sentimentos e sensações, pior de tudo é esta sensação de não estar a fazer o certo, sinto-me como se estivesse a fazer algo muito errado, a desiludir alguém, a entregar os pontos e a dar-me como vencido...neste momento é o que sinto, e magoar os outros, mas principalmente a mim, é algo que quero evitar.

A minha luta pela desinstitucionalização é conhecida por todos, mas eu vou institucionalizar-me dia 21 de Julho próximo. Esse facto está a fazer-me muito mal. É difícil não sentir uma sensação de derrota.

É muito complicado estar nesta posição. Sinto-me muito confuso.

Mas tenho que aceitar de uma vez por todas que continuar a viver sozinho, durante 16 horas do dia, neste estado frágil de saúde que me encontro não posso continuar. Suores persistem, escara idem, intestinos e bexiga não me dão sossego.

É impossível continuar a viver nestas circunstâncias.

Além do factor saúde e impossibilidade de continuar sozinho existiram outros motivos que me levaram a optar por me mudar para um lar. São eles: Uma fantástica e inesperada oferta de emprego que me foi dirigida pelo Centro de Apoio Social da Carregueira (CASC); a impossibilidade de continuar a trabalhar onde me encontro, com contrato após o término do estágio profissional que estou a realizar na União das Freguesias de Alvega e Concavada (UF), e o facto da proposta de emprego me ter sido dirigida por pessoas muito especiais e que têm a minha admiração pela maneira humana como administram a minha futura Instituição. Pessoas essas que conheci aquando da realização da minha viagem de protesto até Lisboa em cadeira de rodas.

Ter um trabalho hoje em dia é um enorme privilégio, ser-se desejado como foi o meu caso é uma sensação maravilhosa. Após adquirir a minha deficiência só tive direito a estágios ao abrigo dos programas de emprego subsidiados pelo IEFP e (contratos de emprego-inserção +) praticamente mendigando…sem dúvida que o factor emprego conta muito, mas não vou deixar de ser obrigado a habitar num lar de idosos.

Vamos aos factos: irei mudar-me para o CASC, no dia 21 próximo, e iniciarei funções a partir do dia 01/08/2015. Estive hoje na Instituição a escolher o quarto e a esclarecer últimas dúvidas.

Agora é preparar a mudança e retribuir com trabalho a confiança que a direcção do CASC depositou em mim.

DESISTI DE LUTAR?

Não, desistir nunca será uma opção, mas as minhas limitações levaram a melhor por enquanto. Vou tentar resolver os problemas de saúde que me têm surgido, e criar condições para poder continuar ainda mais forte e convicto.

Tinha a continuação da greve de fome programada para o passado dia 10/6, mas nestas condições e circunstâncias era impossível realiza-la, facto que me doeu muito e ainda dói.

TRISTEZA

Sair da minha casa e meu ambiente social, onde adoro viver e queria continuar. Separar-me dos meus cães Aramito com 5 anos, e Kiko com 1, assim como das plantas que me foram deixadas pela minha mãe e minha horta, está a ser muito doloroso.

AGRADECIMENTOS

Principalmente à população da Concavada e Ribeira do Fernando, assim como restantes moradores da União das Freguesias por tudo que me ensinaram.

Ficarão para sempre no meu coração.

Cá no fundo existe a esperança de voltar um dia, por isso deixo não um adeus mas um até breve.

Saio com a convicção de dever cumprido. Nunca esquecerei estes quase 4 anos de crescimento e aprendizagem, numa área que quanto a mim não é explorada como deveria ser no percurso académico, pois existe cada vez menos preocupação em promover a dignidade e o valor das pessoas no interior do nosso país, anos esses que me deixam com uma sensação de conquista e vontade de continuar a aprender e desafiar as minhas capacidades, desta vez noutro lugar.

Espera-me um novo desafio que será encarado com enorme orgulho e a mesma determinação e paixão de sempre.

Também não poderia deixar de agradecer ao anterior executivo da Junta de Freguesia da Concavada, assim como aos actuais membros que dirigem atualmente a recém criada União das Freguesias de Alvega e Concavada, pela oportunidade que me deram de trabalhar numa área que tanto prazer me dá (Serviço Social), a todos os meus colegas, Câmara Municipal de Abrantes, Centro de Reabilitação Infantil de Abrantes, principalmente Drº Humberto Lopes, e ainda a Dra Lurdes Botas do Serviço de Emprego de Abrantes pelo excelente trabalho que está a realizar em prol da empregabilidade das pessoas com deficiência no nosso Concelho.

Um obrigado muito especial ao Sr Joaquim Catarrinho pela sua dedicação e carinho ao  cuidar das minhas maleitas físicas e não só durante vários anos, e às minhas cuidadoras Lidia Correia, Euridice Varela e Rafaela Fialho pela paciência que tiveram comigo. Deveria agradecer a muitas mais pessoas, mas o espaço não o permite, sendo assim quero que saibam que ficarão sempre no meu coração. A todos vocês o meu muito obrigado!

Para finalizar quero deixar bem claro que me sinto um afortunado por poder continuar a trabalhar, e sou muito grato a quem me realizou o convite. Minha grande angústia reside no facto de ainda não ter conseguido, através das ações de luta que me propus, alterar esta politica da institucionalização compulsiva levada a cabo pelo nosso Governo. Meu grande dilema não é institucionalização em si, mas o facto de ser obrigado a isso, de não existirem outras alternativas para quem depende do apoio de terceiros, mas principalmente o facto de eu não ter ainda conseguido reverter esta situação através das ações de luta que tenho realizado.

Eduardo Jorge

quinta-feira, 2 de julho de 2015

A Vida Independente cada vez mais perto em Lisboa

Foi dado mais um importante passo para a concretização da Vida Independente em Portugal. Teve lugar ontem a eleição dos corpos sociais do Centro de Vida Independente, que irá gerir o Projecto-Piloto promovido pela Câmara Municipal de Lisboa.

A actividade do CVI não se esgotará na gestão do referido projecto-piloto. Os objectivos são mais vastos, tal como consta no regulamento interno, também ontem aprovado:

-Fomentar a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência;

-Promover a filosofia de vida independente entre as pessoas com deficiência, público em geral, decisores políticos e administrações central, regionais e locais;
-Contribuir para a criação de Centros de Vida Independente e estimular a solidariedade e estabelecimento de redes entre eles.

Será esta a orientação geral da actividade do CVI e dos seus corpos sociais agora eleitos.

Fonte e mais informações: Vida Independente LX